19 de outubro de 2008

Só tenho passado, disse.

Estás muito calada hoje. Tem sido assim todos os dias. Desculpa, sei que não gostas. Alguém que me chama. Uma voz baixinha que diz: Estás muito calada hoje. E eu finjo o meu melhor sorriso e digo que está tudo bem. De lágrimas nos olhos. Às vezes olho para o infinito à tua procura – lembro-me de sorrir – e depois vem o choque da tua ausência. Não é por mal. Só não me peçam – por favor – para esquecer-te. Agora és assunto proibido. Como se tudo o que (me) foste desaparecesse mais facilmente por não ter – já? – o teu nome debaixo da língua. É impossível não pensar em ti. Subo a rua e espero ver-te acenar da janela. E porque te tive sempre como uma certeza – agora fazes-me falta. Já não vens sentar-te de mansinho aos pés da minha cama para apanhar sol. Não fazes as habituais perguntas (tão curiosas!) e também não vamos mais à praia. Quando o telefone toca já não me devolve a tua voz alegre do outro lado. Iluminavas-me, sabias? E eu nunca te disse, por vergonha. Pensei que teria todo o tempo do mundo e, sabendo que não o tinha, nunca soube dizer-te palavras bonitas. Eras tu que as dizias sempre. Aqueles fins de tarde – tu a agarrares-me a mão, ou eu com medo que me fugisses, não sei ao certo – e as tuas palavras certeiras a ecoarem no meu peito. As histórias que contaste, com toda a paciência, e os sorrisos que me roubaste. Que me roubavas constantemente. Eu só soube dizer – sempre sem jeito – Gosto muito de ti. Dizia-o interiormente a todos os instantes, vezes sem conta. Disse-te, ao menos, uma vez? Acredito que sim. Não me esqueço dos teus olhos fixos nos meus, aquele fulgor a fugir-te devagar, e a tua coragem. Sim, a tua enorme coragem. Estás muito calada hoje. Tenho pensado em ti. Só isso. Sinto que me acompanhas e não posso – porque não quero – esquecer-te. Perdoa por acreditar tão piamente nisto. Prometeste que tomavas conta de mim. E sei que também tu não me esqueces. Na verdade, não posso falhar à promessa que te fiz nem desprezar a lição de vida que me deste: Vai ficar tudo bem.


danço contigo a doce dança dos erros sempre.

9 comentários:

V. disse...

menina... :)

E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não


um beijinho muitoooo grande para ti*

Liana disse...

sem palavras.
só suspiros.

Lici in the sky with diamonds disse...

é, amiga. às vezes a espera do dia ideal, o momento ideal, a coragem ultrajante e coisas do tipo no fazem perder preciosas oportunidades de viver e se deixar aproveitar a vida. (:

Rilke disse...

Sem palavras [2]
SÓ suspiros?
TODO suspiros.

E um riso discreto.

Vai ficar tudo bem.

Rilke disse...

ps: A leitura do teu blog fica agradável ao som de The Strokes - Someday.

Não sei se mais ou se menos. Não testei sem a música ainda. Ou melhor, não hje, não este post, não este Rilke.

"You say you wanna stay by my side
Darlin' you head's not right"

Anônimo disse...

o que restou pra dizer depois desse texto?
Só coisas clichês como: lindo, inspirador, dolorido, emotivo.
Parabéns!
Seu blog é lindíssimo.
Bjos

A Coração disse...

Quando li, o meu coração apeertou-se dentro de mim. Há algo neste texto que ficou preso no meu coração.

Unknown disse...

Seria tu uma maga, bruxa ou fada? Teria tu uma bola de cristal? leria tu meus pensamentos? Saberia o que se passa dentro do meu coração?
Coincidência ou não, me indentifico sempre, como se vc 'roubasse' as coisas que sinto e penso e as transformassem em versos.
Dizem que bons escritores são assim, fazem como que seus leitores tomem pra si aquilo que foi escrito.
bjo grande

ivone disse...

estás muito calada hoje...


menina de silêncios em paixão.