28 de janeiro de 2008

Do revés



Vejo que mantém firme a tua decisão. Sei que a minha insistência causa-te dor. Mas é demasiado terrível o que me acaba de acontecer para que não me agarre até a última fibra a esta carta. Nunca havia me sentido tão mal. Em uma época, quando me desprezavas, eu acreditava num grande encontro. Hoje sinto que me arrancaram completamente a vida, que não haverá mais nada, nunca. Sem ti não há vida. Disse-o sempre, sempre o soube. Agora, sinto-o com todo o meu ser.Tudo, tudo que pensava com alegria, agora não tem nenhum valor, repugna-me. Eu não ameaço, não te exijo perdão. E não me farei nada, nada (...) é terrível pensar que podes estar tranqüila e que a cada segundo que se passa estás cada vez mais longe de mim e que dentro de alguns minutos serei esquecido completamente. 

Carta de Maiakovski a Lila Brik








Eu nunca acreditei num grande encontro. Mas hoje, todas as luzes mostram-me a ti. E com elas uma luta amarga para evitar o arrependimento de ter te deixado partir naquele dia. De ter soltado a tua mão e de ter ficado feliz com a tua ausência. Não, não era bem isso que eu queria. Mas tu foste com um orgulho inabalável. E isso me deixava mais feliz, porque só assim eu tinha a certeza de que tu não voltarias pra mim. Talvez tu não eras a felicidade que eu precisava naquele momento (eu precisava?). O fato é tua partida não me doeu. E eu ri muito de minha solidão sem ti. Porque maior era minha solidão ao teu lado. E solidão a dois é a pior de todas. Eu sempre te falava isso e tu colocavas um sorriso no rosto. Mas eu sabia que não compreendias, que não poderias sentir de modo tão avassalador (quanto eu) a solidão que causavas em mim. E isso doía mais que tudo, mais que o meu antigo abandono e minhas antigas cicatrizes (que transbordavam ódio e pavor para nós dois). As tuas mentiras sinceras causavam-me verdadeiro pânico. E o pior de tudo (se pode haver algo pior): eu fechei os meus olhos para todas elas e acreditei na tua palavra. Agora eu sinto pulsar em mim algo além de nostalgia. Mas não quero que voltes. Mas se tu voltas mansamente, como posso me defender? Um sorriso que tento reprimir se esforça para se libertar: é quando falam de ti. Eu pergunto: e depois? e depois? e depois? Minha curiosidade de ti que nunca sacia! Se tu voltas com uma suposta vingança, isso não te cabe. Não nos cabe. Pior do que o (vir a) me arrepender de tua partida é a dúvida que me povoa se devo te aceitar de volta no meu peito (com todos os sentimentos do mundo só para ti). Talvez isso seja reflexo de uma saudade que não se pode controlar, que não pode apagar, que não se pode esconder. Saudade de tudo o nós fomos juntos. Saudade de ti. Por hoje.
eu nunca disse que tu deixarias de habitar em mim

eu também escrevo saudades




3 comentários:

Hilário Ferreira disse...

Ser todo coração é complicado por qualquer arranhão é problema cardíaco...
Qualquer arranhão fere logo no coração...
Sugiro pra alguém que é toda coração procurar um de lata ou trocar pela pedra no meio do caminho...
EU troco o meu coração por um fígado!
Dois fígados e nenhum coração!
(Mentirinha, só porque hoje é segunda-feira e a gente refaz as contas pro fim do mês, dos dias, das contas...

Sam disse...

(Em tempo... Amo Dostoiévski li alguns livros como "O Eterno Marido" e "Memórias do Subsolo" pelo menos umas quatro vezes.
Além de alguns outros como "Noites Brancas", "Irmãos Karamazovi" e etc...etc...
Sou um Hermaníaco também :)
Na turnê do "4", fui em todos os shows que teve em São Paulo...uma pena a banda ter dado esse tempo indeterminado, ou como o Camelo mesmo disse: - Um hiato indefinido. :))
Sinta-se à vontade para ir e vir da minha página quando quiser.
Espero que não se importe de ter um link da sua página na minha.

:)

Sam disse...

O que dizer aos meus fantasmas agora?
Esquecido talvez não.
Já a vida...

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(perdoe-me, esse foi antes do último comentário,ainda me atrapalho com essas coisa :))