29 de janeiro de 2008

Dos dias [tristes] de chuva


Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar ¹








Esses dias de chuva ainda vão acabar comigo. Eu fico confabulando coisas insensatas e conspirando contra mim com os pensamentos mais tenebrosos possíveis. Tenho até medo, sabe? Deito na cama e fico a esperar que tudo passe numa velocidade extrema, para que eu não sinta no meu peito essa sensação. Não que seja impossível de mudar ou reverter tudo. Mas [às vezes] eu não quero que mude. Prefiro ficar deitada, supostamente sem forças, a enfrentar a vida lá fora. Vida que não me atrai, diga-se de passagem. Mas como eu tenho dito:
- é por causa da chuva.



¹ Bertold Brecht
Foto de Graça Loureiro

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