22 de janeiro de 2008

As cores do dia


Escrevia silêncios, noites, anotava o inexpressável. Fixava vertigens.

Rimbaud



Eu fecho os olhos e vejo bolinhas laranjas do Puzzibob.Os dias se resumem a isso: Puzzibob, Eça de Queiroz (livro interminável) e sorvete de morango. Sinto náuseas e temo vomitar tudo isso em breve. Nem sei porque quero que os dias passem tão rápidos, se tudo se dissipa num vácuo que não tem fim. Nunca nada de novo. Nada de surpresas. De uma coisa estou certa: isso não vai passar. Busco em vão atividades que deixem os meus dias um pouco menos monótonos. Mas todos parecem ter as mesmas cores. Cores cinzas. Alguns em branco-e-preto. Mas não se enganem, eu consigo me divertir. Consigo rir e me esquecer durante longos períodos. Não quero uma mão estendida, nem tampouco uma porta escancarada. Difícil definir o que se quer. No meu caso, sim. Porque eu sempre anseio por tudo e acabo sem nada. As horas são uma tortura, principalmente quando não se tem um bom livro (nada contra Eça) ou um bom filme. Jeff Buckley e Los Hermanos ainda conseguem me proporcionar infinitas sensações. Essa interminável espera de algo que não vem, de algo que eu nem sei, de alguém que eu nunca vi é o que mais me maltrata. Esse coração descompassado é o que mais me dói. Falta ritmo. Pulsações fortes. Não agüento mais o what about me do Damien Rice.




Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei o quê que nasce não sei de onde,
Vem não sei como, e dói não sei porque.

Camões

[fotos de Graça Loureiro]

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