14 de novembro de 2007

Metade arrancada de mim


O telefone toca. Vozes e soluços abafados, intercalados com o silêncio do outro lado da linha.

"Estou bem, claro."

Não, não estou. Às vezes, a voz é um disfarce mais fácil de se manipular que o olhar.

Tento dizer-lhe que as coisas não andam bem, que a luz no fim do túnel está cada vez mais distante e que eu não sou tão forte quanto eu demonstro.

Porém, com as poucas palavras que digo, eu a afasto de mim. Eu a afasto, quando na verdade, eu a queria perto. Ela não compreende que meus "nãos" são "sims". Eu a machuco. E eu não saio ilesa.

A ligação acaba. Com o telefone na mão, hesito ligar novamente. Gostaria que ela me confortasse com a certeza de dias melhores, que ela dissesse que essa turbulência há de passar e que todos nós estaremos juntos e felizes em breve, que me dissesse que nem tudo está perdido, que me fizesse acreditar novamente no mundo. Gostaria de pedir para que não saia de perto de mim, que aperte minha mão, que me salve de mim, que me tire desse abismo em que me afundo a cada dia.

Mas nossas dores se chocam. E isso dói tanto. Porque não dói só por mim, dói por ela. Dói por tudo que em acreditamos e que parece cada vez mais distante de nós. Me diz que não vai ser sempre assim, que há esperança. Não me deixa morrer.


Foto de Rachel Stone

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