23 de janeiro de 2010

Muito cedo na minha vida foi tarde demais*


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Graça Loureiro

Penso com frequência nessa imagem que apenas eu vejo e da qual nunca falei. Ela está lá no mesmo silêncio, maravilhosa. É, entre todas, a que mais me agrada, aquela na qual me reconheço, aquela que me encanta.

Muito cedo na minha vida foi tarde demais. Aos dezoito anos ja era tarde demais. Entre dezoito e vinte cinco anos meu rosto tomou uma direção imprevista. Aos dezoito anos envelheci. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apodera-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas. Em vez de me assustar, vi operar-se este envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, que um dia ele abrandaria e que retornaria o seu curso normal.


Tenho um rosto lacerado de rugas secas e profundas, a pele quebrada. Não amoleceu como certos rostos de traços finos, conservou os mesmos contornos, mas a sua materia está destruida. Tenho um rosto destruido.


Marguerite Duras, in O Amante.

3 comentários:

Liana disse...

sabe o que eu acho? nunca é tarde demais. por mais clichê que isso soe, existe um quê de verdade nessas palavras. no fim das contas, é tudo uma questão de perspectiva/imagem e fundo. o que nós queremos priorizar na vida: o fracasso ou a oportunidade? as coisas não acontecem por acaso. nem sempre há sentido nos fatos, mas eu creio, sim, em uma força maior que dá coerência ao que ocorre com a gente. o agora pode parecer nebuloso, sem resolução... todavia, são esses momentos conturbados que nos fazem crescer - e são eles que, em contraste com todo o resto, também nos ajudam a valorizar (e aproveitar) as outras situações. há nas estreitezas algo de apreensível pouco evidente aos olhos. a prolongação da ceguidade que nos acomete deve-se ao fato de que, na angústia, o mundo parece um grande nó górdio. por comodidade ou masoquismo, a gente adota uma postura que, ao passo que nos desordena os pensamentos e instaura um caos interno no que ainda estava intocado, impede que a gente enfrente, de fato, a situação, a verdade... e a verdade é essa: tudo vai ficar bem.

Anônimo disse...

Eu também envelheci aos 18 :~

Unknown disse...

Acho q eu não envelheço mentalmente, ficar mais safa/sagaz é sinal de envelhecimento? Se for, então envelheço, mas como diria minha mãe, minha idade mental sempre será jovem, por que minha alma não envelhece!

antes ter o rosto destruido do q o coração despedaçado!
;)

bjo prima!