7 de outubro de 2007

Silêncio



Parecia filme. Ela treme. Ele se mostra irredutível. Ela vira o rosto e as lágrimas caem, mostrando que a felicidade não está tão perto quanto ela esperava. Ele levanta, anda pelo quarto, tranca-se no banheiro, evita consolar suas lágrimas. Ele acende um cigarro, olha pela janela o mundo agora como num porta-retrato. Ela escuta a música que vem de longe e vê o abismo existente entre ele dois. Ele não percebe. Ela sente a distância. Ele não percebe. Ela ainda treme, faz frio. Ele percebe, tenta aquecê-la. Ela não sente sono. Ele parece cansado. O silêncio constrangedor domina o quarto. Ele ainda tenta:

- Você tá bem?
- Acho que sim, ela responde quase sem som.
- Que bom.

O silêncio é bem menos constrangedor do que esses diálogos monossilábicos, que tanto deveriam dizer, mas que não dizem nada. Ela sente vazio. O frio não é só de fora, vem de dentro. Mas ele não percebe. Ela silencia ainda mais, as lágrimas já não caem com tanta freqüência. Ele não se mostra satisfeito . Seus olhos dizem mais que seus gestos.

- Você quer ir?
-É, já tá na hora.

Chove. E cada um segue seu rumo . Ele, apressado. Ela, devagar, contando os passos.

Foto de Fritz Fabert

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